Nas agências literárias e nas editoras, quando se conversa sem filtros, falamos abertamente que muitos equívocos (erros) são cometidos e, frequentemente pior que tudo, o bendito autor/escritor não se acha culpado.
Será que já cometeste ou cometes alguns desses erros? E têm concerto?
Para que entendas o que se passa nos bastidores, vou revelar essa lista básica de cinco tópicos, que tendem a se repetir na minha lida diária. Muito autor não gosta nem de saber que essas são as nossas conversas internas e sem filtros, porém, se tiver coragem, desafio-te a leres até ao fim. Podes incomodar-te, mas estarás um passo mais próximo da publicação comercial.
1 – Um conceito terrível
Alguns conceitos de história simplesmente não funcionam. Gostávamos que resultassem, mas não resultam. ‘Como assim?’, pensas. ‘Tenho ideias geniais’, dizes, ‘o James é que não se apercebe. Que tal um romance “educacional” para jovens adultos com resmas de explicações sobre ciência climática?’ Complemento: descrito em um enredo meio mole e sem graça? Nem pensar! Digo mais, a ambição cerra o coração e o autor para de ouvir conselhos, não se aprimora, é tragado por um sonho e esquece-se de que publicação comercial é uma indústria e, como a desgraça que não marca encontro, termina de escrever o ‘livro’ e já ela está ali, à espreita, quando o autor envia o suposto ‘texto’ a meia dúzia de editoras e recebe seis belos «NÃO!!!» Há os que me dizem: ‘acho que está na hora de eu refinar as minhas técnicas e entender o que é escrever para publicar’. Contudo, há os que contrariam a realidade e sugerem ‘um livro para adultos que apresenta a história de vida do papagaio do autor’. A simples ‘história do autor’, se ele não for uma pessoa já pública ou pretenda ser? Quem pagaria o equivalente a dois jantares num restaurante mediano para desfrutar de uma história de papagaio, a menos que esteja magistralmente escrita? Vale mencionar os que me dizem: ‘já sei, uma conversa imaginária entre personagens famosos, vivos ou mortos, «O dia em que Platão encontrou José Sócrates…» Isto há de vender!’ Poupe-me!!, penso mas não digo, pois evito magoar. E há tantas outras coisas que não têm a menor hipótese de vender. Ninguém mais quer ler uma história triste sobre uma crise da meia-idade e tantas outras histórias clichés. Se tu não fores um génio para tornar esses assuntos interessantes, ninguém vai se interessar.
Dá para corrigir? Não! Tu só precisas começar de novo. Desculpa!
2 – Um livro que não leva o assunto ao extremo, que não encanta o suficiente
Surpreendentemente, é algo que muito a gente vê. Suspiros que não são muito emocionantes. Comédias que realmente não te fazem rir. Romances que não são realmente tão românticos ou sexy assim. Ficção motivacional que, na verdade, não anima o leitor. Histórias têm de ser realmente emocionantes. Não envolveu, não vendeu.
‘Dá para corrigir o meu manuscrito?’, escuto perguntar. Dá! Podes corrigi-lo – a princípio – e com muito trabalho, mas, na maioria das vezes, é melhor que escolhas uma ideia melhor. O problema não está no manuscrito em si, está na arquitetura da história, não é assim que se escreve para publicar.
3 – Um manuscrito escrito para um público que não existe mais
A menos que faças algo distintamente novo, não há nenhuma razão pela qual agentes, editores ou leitores devam favorecer o teu livro sobre outros mais contemporâneos, no momento da aquisição de um texto para publicar. Não passa uma semana sem que eu receba um ou dois manuscritos de histórias alegadamente infantis, que parecem escritos para crianças da década de 1950. Crianças e jovens querem assuntos contemporâneos, a família do ‘comercial de margarina’ nunca existiu, mesmo naquela época. Pior! Hoje, a imagem tornou-se repugnante, uma família ridícula, que parece sair de um culto fundamentalista, homofóbica, misógina, sexista e racista. O jovem é mais esperto, mais ligado. Pede histórias do aqui e do agora. Veja-se o sucesso dos livros de You Tubers, da biografia da Nany People, dos livros de John Green e tantos outros. Escreve-se, sobretudo, para o mundo como ele é – agora.
Dá para corrigir? Possivelmente, não. Porque tende a ser a visão retrógrada do mundo em que vive o autor. Talvez ele seja lido se publicar em uma revista conservadora, ou vendido na livraria do culto fundamentalista que frequenta. Na livraria do aeroporto ninguém compra mais esse tipo de coisa.
4 – Um manuscrito sem um «quê» discernível
Às vezes, um manuscrito até está bem escrito. É uma história de amor genuína. Parece contemporânea. O manuscrito pode até, em termos de qualidade, demonstrar um ótimo ângulo e um bom conceito e, no geral, ser cativante. A mulher do viajante do tempo? Eu quero ler mais. Uma escola para feiticeiros? Conta-me sobre isso. Um hacker de computador sueco com Aspergers? Se o teu livro nem tiver esse «quê» a mais, provavelmente não vais conseguir publicar. Por exemplo, vê no livro 5 Lições de Storytelling: fatos, ficção e fantasia, que publiquei em Portugal e Brasil, muitas dicas para deixar o teu texto publicável. Há esse e centenas de outros livros que te podem ajudar. E, claro, a gente sempre pode contar com o Google, onde há sites maravilhosos sobre o assunto, e de graça.
Dá para corrigir? Sim. Mas dará muito trabalho. Normalmente, tu precisarás tomar algum aspecto já existente no romance e levá-lo mais adiante do que até então ousaste ir.
5 – Apresentação ruim
Aqueles manuscritos impressos em tinta roxa, por exemplo. Aqueles que nunca viram um corretor de texto ou a pontuação se esqueceu de aparecer para o trabalho na hora em que o autor escrevia. Ter um conhecimento mediano da língua em que escreves é essencial.
Dá para corrigir? Claro! Vá à livraria mais próxima e compre um livro de gramática e redação. E leia muito, leia tudo, de todos os géneros. O bom autor é um bom leitor.
Se estiveres disposto a investir na tua carreira e tiveres condições financeiras, investe em Workshops para Escritores, assessoria, aulas de redação. Ou contrata alguém que te ajude a corrigir os erros. Se as tuas condições financeiras não permitirem investir na carreira, como já mencionei, usa a internet, aprende os princípios básicos da autoedição para que tu possas desenvolver as tuas próprias habilidades editoriais. Não é um caminho fácil, mas é totalmente factível.
James McSill
Consultor Internacional em Storytelling
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Num mercado em que menos que 5% dos bons textos conseguem sequer ser autopublicados, mais de 75% dos autores que recebem acompanhamento de James McSill atingem a tão almejada publicação comercial. James trabalha em vários países com textos para literatura, teatro, cinema, TV e Storytelling Corporativo.
Foto de Natalya Letunova