Um dia destes, pela manhã, entrei numa pastelaria para comprar pão. Já atendidas, algumas pessoas nas mesas finalizavam os seus pequenos almoços, Já tinha passado a hora de pico e o balcão estava vazio. As duas empregadas que estavam de serviço conversavam entre si sobre as coisas que mudam na vida e que normalmente não há nada a fazer. Falavam de outras pessoas que decidiam fazer as coisas de uma determinada forma ou que lhe as impunham e quando assim era não havia nada a fazer. A que defendia aguerridamente esta forma de ver as coisas, até utilizou uma analogia através de uma metáfora para ilustrar à sua colega como as coisas são na vida:

• Olha, por exemplo, se agora construíssem aqui uma parede, não podíamos fazer nada, pois não? Tínhamos que nos ajustar.
• Mesmo que isso não esteja bem ou que não nos sirva?
• Olha, as coisas são como são. Queres um conselho? Habitua-te!

Entretanto, enquanto a conversa decorria pedi o meu pão paguei e saí. Depois de ouvir aquilo, a minha cabeça começou a mil à hora. Só pensava em mandar o raio da parede abaixo. Quantas pessoas é estão cercadas por muros e paredes à sua volta? Que se resignam às condições que lhes aparecem na vida? Ou quantas pessoas aceitam o que lhes impõem sem contestar e simplesmente habituam-se? A verdade é que é muito mais fácil não nos chatearmos com nada e ficarmos numa Zona de Conforto tanto em termos de Ação, como em termos Emocionais. Em termos de Ação porque parece que já não temos energia e força de vontade para fazer a diferença. Não nos queremos dar ao trabalho. Em termos Emocionais porque a maior parte de nós quer evitar o conflito a todo o custo. Seja porque julga não ter poder pessoal, capacidade de argumentação, querer ser aceite ou mesmo ter medo de enfrentar as situações.

Pois deixa-me que te diga, se não enfrentas as situações nas alturas certas, ou senão decides num determinado momento que “chega”, estás a escrever todos os capítulos da tua história pessoal e há-de chegar a um momento, lá mais para a frente, que começas a olhar para o que já passou e não era nada daquilo que querias para a tua vida. Mas como te foste “habituando”, foste também adiando todas as decisões que tinhas que tomar até um momento que já nem sabes quem és.

É verdade que todos nós somos seres de hábitos. É fácil cair no hábito, na rotina. É muito fácil. Mas se estivermos atentos às pequenas escolhas que podemos fazer no dia a dia, podemos fazer muitas mudanças e progredir, atingindo o que queremos na nossa vida. Queres um verdadeiro conselho? Habitua-te a não te habituares a nada!

Reflexões de Ricardo Laranjeira