Chegar a homem, ao longo dos tempos, tem sido um caminho repleto de estereótipos que a sociedade e mesmo outros homens nos incutem sobre masculinidade e o que é ser um homem como tal.
Será que o momento em que nos tornamos homens aconteceria com a primeira relação sexual? E poderia acontecer através de um processo natural e apaixonado, com o primeiro grande amor. Ou então através de um processo provocado como mandava a tradição em algumas partes do país. Certo é que muito provavelmente emerge disso um novo ciclo pois seria quando sentimos um despertar para a vida. Será que a partir daí é chegada a hora em que podemos dizer que já somos homens? Na verdade, esse é apenas o inicio da jornada mas, numa sociedade ocidental altamente sexualizada, parece apesentar-se como o único caminho, fruto dos média e das redes sociais.
Na realidade, esta sensação de estar vivo, este despertar dos sentidos e a revelação de um mundo interno de emoções até então desconhecido, dá a ilusão de que tornarmo-nos homens passa por esta experiência. E que são as mulheres – jovens raparigas da nossa idade – que nos dão o acesso a isso. Sem se aperceberem que ficaram em falta muitas outras coisas.
Já mais à frente na vida, lá pelos 30, 40 ou 50 anos muitos homens vão encontrar-se com algo que dentro deles não foi completado: o seu processo de iniciação como homens. E assim, não se sentem realizados e verdadeiros. Pelo contrário, sentem-se enganados por terem entrado numa corrida que não era suposto entrar – fazem um curso, arranjam um emprego, casam, compram casa, têm filhos e depois ficam a manter tudo isto durante os próximos vinte a trinta anos, aguardando pela próximo grande acontecimento – a reforma de um emprego que provavelmente nem gostam mas tem que manter. E nem compreendem mais qual é o propósito das suas vidas. Nestes momentos é bem possível que partes menos agradáveis, até mesmo desconhecidas, venham à superfície para mostrar que afinal ainda não são o que já pensavam ser.
Não são as mulheres que nos dão o passaporte para nos tornarmos homens, naquele momento tão especial. Talvez apenas nos seja aberta a porta para ter acesso a um outro mundo interior. Mas só quando, ao vivermos a vida, temos o contacto com a morte, com a perda, a dor ou o sofrimento é que provavelmente nos encontramos com nós mesmos. É um acidente, uma perda de emprego, um problema de saúde, a morte de alguém importante para nós, a relação com drogas ou álcool, que nos faz bater no fundo e acordar para vida.
Os homens tendem a ser muito fortes, são resistentes e aguentam demais. Não deixam que as emoções surjam facilmente. Por isso digo que, em muitos casos, o processo de crescimento é feito “à bruta” acontecendo-lhes uma ou mais destas coisas, causando um alto impacto. Porém, é isso também que os abre e torna-os disponíveis para uma outra etapa da vida (se eles a souberem fazer ou forem bem acompanhados pela experiência de outros homens). Claro, como já disse antes, só passam por isto por volta da meia idade. Aí chegados, apercebem-se que estão aprisionados em si mesmos e que, afinal, não têm estado verdadeiramente vivos. Nem se sentem verdadeiramente homens. Continuam jovens rapazes aprisionados em corpos de homens adormecidos funcionando em piloto automático. Esquecidos de si mesmos, confusos, lutando e fingindo. Perderam alegria e entusiasmo, estão sem um propósito na vida e até mesmo com pouca ou nenhuma confiança em si mesmos.
Esta, contudo, será porventura a maior oportunidade das suas vidas, a possibilidade de reconhecer que podem precisar de ajuda no caminho que os leva a ser homem e, neste ponto de viragem, começarem a planear a segunda parte da vida. Tornando-se mais e melhores homens.
Ricardo Laranjeira
Second-life Coach